Receber um diagnóstico nunca foi fácil. Mil perguntas passam pela nossa mente, muitas delas, seguem sem respostas. As incertezas podem causar o medo e a ansiedade. Quando a doença diagnosticada é progressiva e sem cura, a angústia pode ser ainda maior. Porém, planear o futuro, estudar a evolução da patologia e tentar, ao máximo, preparar-se para esse universo desconhecido que se revela são medidas positivas e eficientes para tornar essa jornada mais leve e mais segura.
Conheça algumas medidas para enfrentar as curvas e os declives desse caminho. As dicas a seguir servem para todos que estejam nos estágios iniciais de demência, seja ela a doença de Alzheimer, a demência vascular, frontotemporal, a demência com corpos de Lewy ou apenas o défice cognitivo ligeiro.
Reconheça as limitações: Por muito tempo, os doentes com a demência mantêm a capacidade de viver sozinhos ou realizar as tarefas do quotidiano com autonomia e segurança. Com o passar do tempo, as atividades simples e habituais, como preparar uma refeição ou limpar a casa, passam a ser desafiadoras e, às vezes, até perigosas. Reconheça até que ponto é possível ir sem ajuda. Muitas vezes, não é necessário abandonar o estilo de vida que usufruía e, sim, adaptá-lo à nova realidade. A decisão de não conduzir veículos é um dos pontos mais impactantes na vida de um doente com a demência. Abdicar do automóvel envolve uma simbologia muito forte na perda da independência. Junto com os familiares, no entanto, é importante pensar em alternativas de transporte e demonstrar que é uma prevenção e não uma punição.
Reorganize a rotina: Pagar as contas no início do mês, planear as horas do dia, elaborar as refeições, saber quando é preciso ir ao mercado ou à farmácia são situações que, por muito tempo, acontecem de maneira automática. Não é preciso manter um calendário no frigorífico com os horários de medicação ou com o dia de abastecer a despensa. No entanto, a situação muda quando se trata de um doente com a demência. O doente começa a perder a noção dos dias da semana e as atividades embaralham-se. Para não se perder nas atribulações da rotina, faça algumas listas. Listas de supermercado, de farmácia, de limpeza, de telefones, de aniversários, de eventos sociais. As listas são infalíveis. E fixe-as em locais visíveis, como os frigoríficos, o espelho da casa de banho ou a porta do armário. Os eventos mais importantes também podem ser incluídos em aplicativos de telemóvel, se acaso considerar esse modo mais eficiente. Essa recomendação é importante, principalmente, para o horário da medicação.
Garanta a segurança em casa: Neste período da vida, poucos estão dispostos a encarar grandes mudanças ou reformas dentro de casa. E nem sempre elas são necessárias. As pequenas mudanças na disposição dos móveis ou na iluminação já podem proporcionar um ambiente mais seguro para o doente com a demência. O primeiro passo é manter a ordem. Remover os tapetes soltos e que apresentem as pontas para cima, criar o hábito de guardar as roupas e os objetos desarrumados, iluminar todos os pontos da casa, sinalizar os degraus das escadas e esconder os fios de telefones e eletrodomésticos para evitar as topadas. Outra providência fundamental é instalar um alarme de incêndio e manter, na cozinha, os aparelhos que desliguem automaticamente.
Pense no futuro: Tomar decisões que serão postas em prática ao longo de 5, 10 ou 15 anos é um desafio enorme. Poucos conseguem ter essa disciplina e disposição. Entretanto, considerar as opções, enquanto o doente está bem, com a capacidade de expressar as vontades e as necessidades, pode fazer toda diferença no futuro. É nesse momento que as decisões financeiras, profissionais e práticas – como onde morar e com quem – precisam ser resolvidas. É dolorido, é desconfortável, porém, no início, ainda há tempo para as conversas, as discussões e as ponderações.
Organize uma rede de apoio: Muitos doentes demoram muito tempo para revelar a condição para os amigos, os vizinhos e os parentes mais distantes. Eles preferem a discrição – seja por constrangimento ou para não incomodar, não dar trabalho. Contudo, principalmente para aqueles que moram sozinhos ou longe dos parentes, é importante criar uma rede de ajuda que possa ser acionada dia e noite. Nesta rede, é preciso constar os médicos de confiança, os amigos próximos e até aquele vizinho que entra em ação diante de uma emergência. A vida compartilhada pode ser mais tranquila, mais leve e mais segura.
Fonte: Mayo Clinic
Atualizado em 17/09/2020.