Cuidar de um doente crónico pode ser uma jornada tensa e cansativa, emocional e fisicamente. Na maioria das vezes, a função de cuidar fica a cargo dos cônjuges e dos filhos. Como não há cura para a doença de Alzheimer e as outras demências, esta é uma jornada sem data para terminar.

A psicóloga Maria Inês Falcão, professora da Universidade Paulista (UNIP), no Brasil, que há quase três décadas trabalha com doentes portadores de demência e os familiares, ela conhece de perto as dificuldades que essa doença impõe sobre todos. A Dra. Maria Inês sabe que à medida que a demência limita as habilidades físicas e cognitivas do paciente, acarreta mais trabalho aos cuidadores e isso leva-os a negligenciarem a própria saúde. Aqui, ela responde duas questões muito importantes:

Qual é o papel do cônjuge e dos familiares próximos para ajudar o doente nesta nova jornada?

Quando alguém de nossa família está a sofrer de algum mal, nós tentamos cuidar da melhor maneira possível. Contudo, nem todos os familiares participam do cuidado, de forma direta ou indireta.

Os estudos revelam que os cuidadores, a maioria, são os cônjuges, pessoas que também são idosas, ou familiares do sexo feminino (em decorrência da cultura, ainda muito presente em diversos países, e Portugal não é exceção, de que a mulher é a responsável pelos cuidados da casa e das pessoas da casa: portanto, dos doentes).

Por isso, nessa fase é absolutamente fundamental dividir os cuidados prestados ao doente, de forma a não adoecer também o cuidador, o qual fica sujeito a doenças psicossomáticas, psicológicas e/ou psiquiátricas, como a depressão. Cada um, na família, pode desempenhar um papel essencial nos cuidados com o doente; ainda que nem todos tenham condições de realizar o cuidado direto, tal como o manejo da higiene e do banho, todos podem colaborar nessa tarefa do cuidado, como por exemplo: efetuar as compras no supermercado, cuidar da limpeza da casa, levar o doente ao médico, passear com o idoso, disponibilizar tempo e/ou dinheiro para que as necessidades emocionais e físicas dele sejam atendidas (em tempos de pandemia, todas as atividades citadas acima podem ser feitas à distância, pois, ainda que alguns pacientes tenham dificuldade em interagir com as tecnologias, nós podemos adotar algumas delas para facilitar a comunicação ou a procura de suprimentos).

Nós apresentamos, então, um panorama que está a mostrar a necessidade de apoio efetivo ao doente, seja do ponto de vista prático, isto é, fisiológico, ambiental ou financeiro, como também do ponto de vista afetivo. O doente deve participar, o máximo possível, das atividades e das situações familiares, de modo a evitar o isolamento emocional e o aumento de dificuldades.

Qual é a orientação da Sra. para enfrentar esse momento sem cair na tristeza e na desesperança, em quadros clínicos de depressão?

Professora Maria Inês: Como os estudos mencionam, os cuidadores de portadores de doenças neurodegenerativas (demências) apresentam cerca de oito vezes mais chances de sofrer de depressão. A primeira condição é lembrar que qualquer doença, de facto, entristece; negar a tristeza também não é a solução.

Os cuidadores necessitam de cuidados e precisam reservar um momento para si, de modo a não sofrerem demasiado e sucumbirem ao papel de cuidadores. Assim, orienta-se que os familiares reservem um tempo para si (o revezamento da ação de cuidar propicia este espaço) e, a partir dele, desfrutem de momentos prazerosos, da forma que lhes apetecer.

Porém, isto não significa que a tristeza não estará presente e que eles não necessitarão de cuidados; se for este o caso, o melhor a fazer é também tratar de cuidar de si. Além de momentos de prazer, cuidar da saúde psicológica é uma grande ferramenta para o cuidador não se sentir sobrecarregado.

Conheça os direitos e os deveres do cuidador informal e os direitos da pessoa cuidada.

Atualizado em 18/08/2020.

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