À medida que a doença de Alzheimer evolui, os doentes perdem a autonomia para realizar as tarefas simples, com as quais sempre estiveram habituados. A sensação de perda é enorme. Muitos ausentam-se do trabalho, convivem menos com os amigos e já não conseguem envolver-se nas atividades que antes proporcionavam tanto prazer e alegria. Aos cuidadores, fica a missão de manter os doentes em segurança e, ao mesmo tempo, estimular a autonomia. Observa-se que o desafio é grande. Consentir que o doente cozinhe e saia sozinho de casa estão entre os problemas enfrentados pelos familiares de pacientes. Mas, uma das maiores restrições – e a que gera muitos conflitos – é o uso do automóvel. Então, surge a dúvida: até quando o doente de Alzheimer tem o discernimento e a independência para conduzir um veículo?

Em estágios iniciais da demência, conduzir ainda não é uma grande questão. Porém, os doentes apresentam sinais de algum comprometimento cognitivo, ainda que não de forma contínua. Eles demonstram dificuldade para resolver problemas e planear-se. Também podem apresentar uma perda de discernimento e menor capacidade para tomar decisões. O mais preocupante e arriscado, no entanto, é o comprometimento da percepção espacial. Isto é, o paciente já não consegue avaliar com precisão as distâncias ao redor, nem distinguir os contrastes de cores. Os parentes e os amigos podem perceber esses sinais da doença e avaliar o tamanho do perigo e se existe algum risco na conduta.

Com a evolução do quadro clínico, conduzir torna-se preocupante. Alguns doentes sentem- se inseguros e guardam as chaves por decisão própria. Já outros não percebem a incapacidade que se instala ou não estão dispostos a abrir mão da independência que o veículo oferece. Durante as consultas médicas, o especialista poderá alertar sobre a dimensão da perda cognitiva e quão arriscada é a situação. Os parentes e os amigos também podem observar como o doente está a conduzir: perde-se com facilidade? Sai da estrada? Demora para tomar decisões? Alterna a velocidade sem necessidade? Sente-se nervoso e confuso com as sinalizações de trânsito? Apresenta avarias no veículo? Estes são sinais de alerta. Neste ponto, a Academia Americana de Neurology desaconselha a condução.

A negociação para retirar as chaves, no entanto, pode não ser fácil. O doente sente-se incapaz, com baixa autoestima e sem autonomia. Quando a decisão é imposta pela família, a reação nem sempre é positiva de imediato. Diante de mais este desafio, é aconselhável conversar com o médico de confiança ou com um psicólogo. Em alguns casos, o aconselhamento é aceite de forma mais natural, se o conselho vem de alguém de fora de casa. A segurança, obviamente, é a questão mais importante.

Fontes: Academia Americana de Neurologia, Mayo Clinic

Atualizado em 16/06/2020.

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