Com o envelhecimento da população, a doença de Alzheimer está em uma escala crescente em todo o mundo. Em Portugal, estima-se que quase 200 mil pessoas estejam com demência. Este número tende a crescer significativamente nos próximos anos. As conquistas da medicina para compreender o princípio e o desenvolvimento dessa enfermidade são inegáveis. Porém, há poucas abordagens que levam em consideração as questões de género, ainda que sejam evidentes as diferenças nas estruturas cerebrais de homens e mulheres. Sabe-se, no entanto, que dois terços das pessoas acometidas pela doença de Alzheimer são do sexo feminino.
A psiquiatra americana Dra. Pauline Maki, professora na Universidade de Illinois, em Chicago, é atualmente uma das grandes pesquisadoras em diferenças de género. O objetivo de seu trabalho é, justamente, melhorar a vida das mulheres ao identificar fatores que podem alterar o declínio cognitivo e causar outros distúrbios afetivos. Abaixo, uma conversa sincera com a Dra. Pauline Maki:
Thereus Health: Por que as mulheres são mais acometidas pela doença de Alzheimer do que os homens?
Dra. Pauline Maki: Há muitos fatores que levam a este dado, mas o maior é o facto de as mulheres viverem mais do que os homens. As mulheres estão mais sujeitas a desenvolverem Alzheimer na terceira idade, se elas tiverem o principal risco genético para a doença, o apolipoproteína e4 alelo (ApoE4). Há dois sinais patológicos de Alzheimer – beta-amiloide e tau (leia mais abaixo). As mulheres que apresentam a proteína beta-amiloide tendem a acumular mais tau, o que as expõe ao risco de declínio cognitivo. (Perceba mais sobre beta-amiloide e tau abaixo).
Thereus Health: Há alguma precaução que as mulheres devem seguir para proteger o cérebro e a capacidade cognitiva, antes de receberem o diagnóstico?
Dra. Pauline Maki: Sim, mantenha o coração saudável, pratique atividade física, estabeleça relações sociais e alimente-se de forma saudável, dê preferência à dieta Mediterrânica.
Thereus Health: As demências acometem os homens e as mulheres de formas diferentes?
Dra. Pauline Maki: Sim. Nós observamos que, em estágios iniciais, as mulheres apresentam vantagens cognitivas sobre os homens. No entanto, à medida que o quadro clínico evolui, o estado de saúde delas deteriora-se mais rapidamente.
Thereus Health: Quanto às questões emocionais, os homens e as mulheres encaram o diagnóstico da mesma maneira?
Dra. Pauline Maki: A pergunta é boa, mas muito pouco se sabe sobre essa questão. Nós observamos que as mulheres sentem mais medo da doença de Alzheimer, o que é compreensível.
Thereus Health: Os homens e as mulheres estão diante de desafios diferentes ao conviver com a doença de Alzheimer?
Dra. Pauline Maki: Geralmente, as mulheres são as principais cuidadoras de doentes com Alzheimer, muito mais do que os homens. Portanto, é óbvio que elas arcam com a carga psicológica que acompanha essa situação.
Thereus Health: Os cientistas estão a considerar a diferença de géneros nas pesquisas por novos tratamentos?
Dra. Pauline Maki: Cada vez mais, a comunidade científica que estuda a doença de Alzheimer reconhece a importância dos géneros. Infelizmente, as diferenças entre os homens e as mulheres ainda não são prioridades, como deveriam ser, nos estudos de novos tratamentos, tanto de demência como de outras enfermidades.
Mais informações sobre as proteínas beta-amiloide e tau
Os cérebros com Alzheimer, analisados após a morte dos doentes, contêm placas formadas pelo acúmulo anormal de fragmentos da proteína beta-amiloide e emaranhados da proteína tau. As placas estão situadas entre as células nervosas e comprometem as conexões e as sinapses. O poder dessas placas é tão grande que elas também afetam a eficiência das células saudáveis. Já os emaranhados inviabilizam a nutrição das células e leva-as à morte. Tanto as placas quanto os emaranhados dispersam-se pelo córtex, a camada mais externa do cérebro, à medida que a doença evolui.
Atualizado em 02/06/2020.