Enquanto não há um tratamento definitivo para a doença de Alzheimer ou um modo de impedir que ela se desenvolva, os cientistas procuram os meios de retardar a progressão e melhorar a qualidade de vida dos doentes. Os pesquisadores da Universidade da Califórnia, em São Francisco, em uma parceria com o Laboratório de Fisiopatologia no Envelhecimento da Universidade de São Paulo, avançaram nessa perspectiva. Eles comprovaram que os estágios iniciais da degeneração cerebral associada à doença de Alzheimer estão diretamente relacionados a outros sintomas neuropsiquiátricos, como a ansiedade, os distúrbios do sono, a depressão e a falta de apetite.

O estudo contou com um dos maiores e mais antigos serviços de autópsia do Brasil para analisar os tecidos cerebrais. E, essa etapa foi extremamente importante, uma vez que a doença de Alzheimer pode ser detectada em uma autópsia do cérebro uns anos antes dos sintomas clássicos, como a perda de memória, aparecerem. O grande avanço em relação a trabalhos científicos anteriores foi dispor de uma quantidade importante de cérebros de indivíduos com mais de 50 anos, que estavam saudáveis ou que não apresentavam outras patologias concomitantes ao falecer. No início, os pesquisadores dispuseram de 1092 cérebros e, após descartarem 637 deles comprometidos, eles trabalharam com 455 cérebros que viabilizaram obter resultados mais precisos.

A doença de Alzheimer causa um acúmulo da proteína beta-amiloide em placas senis e um aumento de emaranhados neurofibrilares. Essas duas lesões no cérebro são responsáveis pela progressão dos sintomas. Após analisar os 455 cérebros, em autópsia, sem sinais de degeneração ou com questões relacionadas à doença de Alzheimer, os pesquisadores entrevistaram os familiares e os cuidadores para investigar o estado cognitivo e emocional dessas pessoas. Na sequência, eles conseguiram cruzar todas as informações para verificar a relação entre a doença de Alzheimer e as alterações comportamentais apresentadas por esses indivíduos.

O resultado desse trabalho demonstrou que a ansiedade e a agitação, assim como os outros quadros psiquiátricos, podem ser indicadores iniciais de distúrbios cognitivos futuros. Em outras palavras, a neuropatologista Dra. Lea Grinberg, coordenadora do estudo, sugere que a ansiedade, por exemplo, pode ser o começo da doença de Alzheimer. Por essa perspectiva, a descoberta seria uma esperança para o diagnóstico precoce e as eventuais medidas para reverter a doença.

Vale lembrar, no entanto, que a doença de Alzheimer e os outros tipos de demência, isoladamente, já são importantes fontes de tensão. Não raramente, os doentes sentem a progressão dos sintomas e o agravamento do quadro clínico, situações que podem causar a ansiedade, a depressão e a agitação para dormir.

No passado, alguns estudos já tinham identificado uma relação entre os problemas neuropsiquiátricos e a doença de Alzheimer. Mas, por muito tempo, os pesquisadores cogitaram que estes outros sintomas, como a depressão e a ansiedade, não eram os biomarcadores da doença em estágios iniciais e, sim, os causadores da demência. Os medicamentos utilizados para tratar as condições psiquiátricas também já foram mencionados como os eventuais desencadeadores do Alzheimer.

Para a neuropatologista Dra. Lea Grinberg, ao identificar que os sintomas psiquiátricos podem ser os sinais iniciais da doença, constata-se que essas pessoas não apresentam maior risco de desenvolver Alzheimer. Elas já estão com a doença.

Fonte: University of California at San Francisco

Para conhecer os primeiros sintomas da doença de Alzheimer, descarregue nossa brochura ‘Os Sinais Iniciais da Doença de Alzheimer’.

Atualizado em 28/05/2020.

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