Por que o cérebro de alguns indivíduos apresenta maior habilidade para enfrentar o declínio cognitivo e lidar com as falhas com mais força do que outros? Por que umas pessoas envelhecem sem perder a memória ou a capacidade de aprendizagem? Por que há cérebros mais robustos e em pleno funcionamento, ainda que afetados por doenças como o Alzheimer e o Parkinson? A resposta para essas perguntas é a mesma: elas apresentam uma saúde cognitiva mais poderosa. Para compreender porque isso ocorre, é preciso saber o que é reserva cognitiva e como ela mantém o cérebro aguçado para contornar as situações adversas.
– A reserva cognitiva é uma habilidade que o cérebro adquire ao longo da vida através de estímulos, de desafios e de educação. Quanto mais estimulado, mais preparado ele está para enfrentar os declínios causados por doenças que possam afetá-lo. Os neurónios ficam mais conectados e ativos. O cérebro não é um músculo. Mas, em termos de comparação, vale o exemplo: quanto mais trabalhamos um músculo, mais forte e potente ele fica. O mesmo ocorre com o cérebro.
– O envelhecimento, assim como as doenças, podem provocar algumas mudanças no cérebro. Cada cérebro, por sua vez, reage de um determinado modo a essas circunstâncias. O nível de inteligência e as experiências acumuladas ao longo da vida constroem a reserva cognitiva e são fatores importantes para definir o que acontece com indivíduos da mesma idade, raça e até profissão.
– As experiências de vida que ampliam a reserva cognitiva inclui os estudos, a aprendizagem e também a interação social. Quanto mais diversificada, frequente e intensa forem, maior é a resiliência do cérebro. Não basta aprender um idioma ou fazer o Sudoku (jogo de lógica com números). Os cientistas afirmam que os benefícios são importantes quando há a prática de uma atividade física, o aprendizado de um instrumento musical, o encontro com os amigos, consequentemente, tudo isso mantém o cérebro envolvido em várias frentes. Nesta conjuntura, o declínio cognitivo fica mais lento e reduz o risco de o cérebro desenvolver a demência.
– Quando as experiências de vida são ricas e constantes, o risco de desenvolver o Alzheimer, segundo os estudos, é reduzido em até 40%. O cérebro vai envelhecer. Isto é facto. Mas, as pessoas mais ativas irão dispor de mais ferramentas para lidar com este processo e podem nunca passar pelos sintomas da demência.
– O conceito de reserva cognitiva despontou quando, na década de 80, alguns cientistas analisaram os cérebros de doentes de Alzheimer já falecidos. Embora a doença tenha avançado, eles não apresentavam os sintomas clínicos em vida. A explicação dos pesquisadores é que eles tinham uma quantidade importante de reserva cognitiva, o que lhes permitia viver uma vida normal, sem comprometimentos no funcionamento do cérebro.
– Diante dos benefícios de uma reserva cognitiva elevada, fica a pergunta: o que é possível fazer para expandi-la? Uma receita pronta e que funcione para todos não existe. Tampouco se sabe qual é o estímulo específico que reduz o declínio cognitivo e o risco de demência. Sabe-se, no entanto, que a reserva cognitiva é desenvolvida ao longo da vida e independem da época em que os aprendizados são iniciados. Mais: o efeito é cumulativo.
Fontes: Harvard Medical School, Age UK
Atualizado em 14/05/2020.