A COVID-19 ainda é uma doença pouco conhecida até para os profissionais de saúde. Ela chegou subitamente e suscita dúvidas a todos. Para quem convive com algum tipo de demência ou cuida de um doente, a insegurança é ainda maior.
Na semana passada, a senhora Beth Kallmyer, vice-presidente da Alzheimer’s Association, nos Estados Unidos, respondeu às perguntas mais frequentes que ela recebe. Abaixo, reproduzimos alguns trechos do texto.
A demência não aumenta o risco de ter COVID-19. Porém, os doentes podem ter o risco elevado, devido a outros comportamentos. O que causaria um risco?
BK: Uma série de fatores entra em jogo quando se fala em risco, principalmente os comportamentos relacionados à demência, a idade avançada e as outras condições crónicas de saúde. As famílias precisam estar cientes de que as pessoas mais velhas, especialmente em condições crónicas pré-existentes – como a doença cardíaca, o diabetes ou as questões respiratórias – apresentam um risco maior de desenvolverem complicações, caso elas contraiam a COVID-19.
Nós sabemos que os doentes com a demência são subdiagnosticados com gripes normais e a COVID-19 pode piorar o comprometimento cognitivo na demência. Se o cuidador perceber que o doente está a apresentar sintomas de gripe, deve medir a temperatura dele. Não o leve imediatamente ao hospital, a não ser que ele apresente dificuldade para respirar e esteja com febre muito alta. O médico de confiança talvez consiga passar as orientações, de modo que o paciente não precise ir ao hospital.
Quais são as principais recomendações de higiene que os cuidadores devem levar em consideração?
BK: Os cuidadores e os familiares precisam dar assistência aos doentes com demência nas questões de higiene. Como esses doentes podem falhar nesses cuidados e não lavar as mãos adequadamente ou não seguir outras instruções, cabe ao cuidador ou familiar estar atento.
Algumas táticas para ajudar na manutenção desses hábitos incluem demonstrar, detalhadamente, como lavar as mãos, pôr lembretes na casa de banho sobre a importância de lavar as mãos com sabão e disponibilizar o álcool em gel em vários pontos da casa. Outra recomendação é estabelecer horários para lavar as mãos e incorporá-los à rotina.
Nós também seguimos as orientações do Centers for Disease Control, agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, que ressaltam a importância de evitar tocar o nariz, os olhos e a boca, de evitar o contacto com pessoas doentes, de cobrir a boca com um lenço ao tossir ou espirrar, de desinfetar os objetos mais tocados da casa e de lavar as mãos frequentemente.
Para os doentes com a demência que vivem em casa, que conselho a senhora daria para limitar o número de visitas e, assim, proteger a saúde de todos?
BK: Como a maioria dos doentes com a demência tem mais de 65 anos de idade, essa população apresenta um risco maior de sofrer as complicações da COVID-19, principalmente, se houver outras condições associadas. Os cuidadores precisam ser proativos para proteger o doente e evitar o contacto com pessoas de fora, com exceção para os casos essenciais. Vale ressaltar que não há problema em dizer ‘não’ durante essa crise para proteger todos os envolvidos.
Se o cuidador não reside na casa do doente, cabe aos familiares observar o estado de saúde dessa pessoa. Não tenha medo de perguntar, essa é uma forma de proteger quem se ama.
Qual é a sugestão para criar um ambiente aconchegante para os doentes com a demência em um período de tanta ansiedade?
BK: É importante manter-se calmo e confiante nas interações com o doente. Um ambiente seguro é vital para que ele sinta-se protegido.
Apresente a situação atual em um contexto que o doente compreenda, de acordo com o estágio em que ele está da doença. Se ele não conseguir compreender, simplifique. Diga-lhe apenas que ficar em casa, neste momento, é necessário para ele ficar seguro.
Caso algum cuidador ou familiar esteja a usar máscara facial para proteção, explique porque está a usá-la, assim pode aliviar o medo ou a ansiedade que o doente possa sentir. É importante reforçar que essa medida é temporária e é para preservar a saúde de todos.
O que fazer se o comportamento do paciente se alterar repentinamente?
BK: É importante que os cuidadores monitorem os doentes com a demência e atuem com prontidão diante de qualquer sinal de tensão, desconforto ou desorientação. Os doentes nem sempre conseguem demonstrar o que sentem.
Embora as mudanças de comportamento não indiquem necessariamente a COVID-19, é importante que os cuidadores estejam atentos. Quando o doente não se comunica verbalmente, as ações dele podem sinalizar o que está a acontecer. Fique atento e converse com o médico se houver qualquer mudança importante.
Atualizado em 21/04/2020.