A demência é uma condição que altera a função cognitiva à medida que o cérebro envelhece. Os neurónios perdem a conexão com as outras células do cérebro e morrem. Mas, ela atinge cada pessoa de uma maneira. Nunca os sintomas são idênticos. Para todos os doentes, no entanto, a família tem papel fundamental, assim como os exercícios físicos e os passatempos.

A seguir, a neurologista Dra. Luísa Alves, explica a importância da família e dos amigos nesta jornada, o papel da atividade física na prevenção da demência e como os idosos podem aproveitar as horas que passam em casa. A Dra. Luísa Alves é assistente na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa e Investigadora no Centro de Estudos de Doenças Crónicas da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa (CEDOC).

TH: Qual é o papel da família na demência e como ela pode ajudar a aumentar o bem-estar do paciente e, quem sabe, auxiliar no tratamento?
Dra. Luísa Alves: O papel da família é fundamental. É crucial a função integradora familiar. Tal como a família de um indivíduo com síndrome de Down, com paraplegia, com tetraplegia, surdo-mudo ou qualquer outra limitação motora, sensorial ou cognitiva pode e deve integrar as características que a doença confere ao indivíduo no quotidiano, também os familiares de um indivíduo com défice cognitivo  devem fazê-lo. Uma sugestão é, por exemplo, não salientar o esquecimento, não insistir que ele já disse determinada coisa ou fez a pergunta várias vezes. É fundamental não repreender, não se irritar com o indivíduo com defeito cognitivo. Não é esse tipo de atitude que vai recuperar a memória. Por outro lado, irritar ou até enfurecer a pessoa com demência pode levá-la a desenvolver alterações comportamentais que, às vezes, culminam na auto ou héteroagressividade. A família deve, também, sensibilizar os vizinhos e amigos sobre o defeito cognitivo de forma que eles adotem atitudes de integração, de apoio e não de exclusão e de estigmatização. É importante não se esquecer de que a família sabe, à partida, os gostos, as preferências do doente e tal conhecimento é fundamental para proporcionar “programas” que ele aprecie. Por exemplo, assistir ao filme preferido, ir a um concerto, visitar o jardim zoológico, contemplar as amendoeiras em flôr.

TH: Qual é a importância da atividade física na prevenção da demência? E o que é considerado atividade física eficiente? Uma caminhada pelo bairro é benéfico, por exemplo?
Dra. Luísa Alves: Os adultos mais velhos que praticam exercício físico apresentam maior probabilidade de manter a cognição do que aqueles que não o praticam. Não há ensaios randomizados que demonstrem que a atividade física previne o declínio cognitivo, mas estudos observacionais encontraram uma relação inversa entre o exercício físico e o risco de demência.
A atividade física em indivíduos sem demência apresenta um efeito protetor significativo contra o declínio cognitivo, portanto, altos níveis de exercícios são mais protetores do que níveis mais baixos. Além disso, proporcionam benefícios às pessoas mais velhas, tais como a melhoria do equilíbrio, a redução de quedas, a melhoria do humor e a redução da mortalidade.
Um ensaio clínico randomizado demonstrou que uma caminhada de 40 minutos, realizada 3 vezes por semana ao longo de um ano, aumentou o tamanho do hipocampo e melhorou a memória em adultos saudáveis com idades entre os 55 e os 80 anos. No entanto, a evidência científica de que a atividade física reduz o risco de demência não é suficiente.

TH: Muitos idosos passam o dia à frente da televisão. Qual é a sugestão que a Doutora indica para os idosos aproveitarem melhor essas horas?
Dra. Luísa Alves: Encontrar um passatempo ao gosto da pessoa. O passatempo pode ser palavras cruzadas, modelar objetos em cerâmica ou plasticina, criar objetos e construções com o jogo Lego. Eles podem ler revistas, periódicos ou livros.
Para aqueles em que a capacidade visual está comprometida (por problemas oftalmológicos, por exemplo), há aparelhos que transformam um texto escrito em oral. Eles podem, com a ajuda de familiares, organizar um álbum de fotografias. Podem pintar, ouvir música ou cantar karaoke. Podem, sob supervisão, cuidar de uma horta ou de um jardim. Podem jogar às cartas. Podem participar de excursões, festas ou bailes organizados pela junta de freguesia ou pelo centro paroquial da área de residência. Podem visitar museus ou frequentar cursos gratuitos.

A Dra. Luísa Alves fala mais sobre demência aqui.

Atualizado em 09/04/2020.

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