Ainda não se sabe a verdadeira causa da doença de Alzheimer e de outras demências. Contudo, nos últimos 20 anos, diversos estudos sugeriram associações entre os traumas na cabeça e o risco de doenças neurodegenerativas. Além de choques em decorrência de acidentes de carro e quedas, as lesões provocadas em atividades desportivas ganharam destaque. Até o momento presente, no entanto, desportos que levam a um contacto físico violento, como o futebol americano, ou aqueles com golpes repetitivos, caso do boxe, eram os mais preocupantes.

Recentemente, um estudo realizado na Universidade de Glasgow e patrocinado pelas Football Association e Professional Footballer’s Association, da Escócia, pôs o futebol em evidência. Após 18 anos de observação, os pesquisadores concluíram que os ex-jogadores profissionais desenvolveram mais doenças neurodegenerativas do que a população comum. Este grupo também recebeu cinco vezes mais medicações para tratamento de demências do que o grupo-controlo, formado por indivíduos que servem como referência para o estudo, sem as variáveis observadas. E eles ainda apresentaram o risco de morte em decorrência de doenças neurodegenerativas, como Alzheimer, Parkinson e esclerose lateral amiotrófica, 3,5 vezes maior.

A explicação é que os impactos recorrentes da bola na cabeça – que ocorrem durante o jogo e nos treinamentos – provocam alterações em estruturas do cérebro, ligadas a funções motoras e cognitivas. Estas alterações, consideradas como encefalopatia traumática crónica, manifestam-se com o passar dos anos.

O estudo escocês, publicado no periódico médico The New England Journal of Medicine, demonstrou que a mortalidade por outras causas, como doenças cardiovasculares e cancros, inclusive de pulmão, foi consideravelmente menor do que aquela provocada por doenças no cérebro. A explicação mais óbvia é a de que os atletas não apresentavam fatores de risco como obesidade e tabagismo. Ou seja, embora seja importante investigar os riscos de traumas na cabeça, é fundamental reconhecer os benefícios que a prática desportiva proporciona à saúde, em geral.

O desenvolvimento da doença de Parkinson, cuja causa também é desconhecida, já foi associado a traumas na cabeça. O caso mais conhecido é do lutador de boxe Muhammad Ali, diagnosticado aos 42 anos de idade com Parkinson de Início Precoce. Muitos especialistas acreditam que a doença tenha sido provocada pelos repetidos golpes que sofreu nos ringues.

Fonte: The New England Journal of Medicine e University of Glasgow

Atualizado em 03/03/2020

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